Um dos aspetos mais importantes para a escolha do calçado barefoot é adequar o tipo de modelo à fase em que os nossos pequeninos estão. Há modelos mais minimalistas, que permitem mais sensações, há outros mais estruturados e nem todos resultam para todas as crianças. Se estão agora a começar a andar, têm uma necessidade diferente dos pequeninos “crescidos” que já são muito ativos e fartam-se de brincar.
Para simplificar a vida aos nossos pais, fazemos uma breve descrição de cada fase e quais as marcas que poderão resultar melhor:
Primeiros passos:
As crianças costumam dar os primeiros passos sem apoio entre os 12 a 18 meses. Quando falamos de sapatos, equivale aos três primeiros meses após começar a andar. É uma fase muito desafiante, em que os pequenos estão a descobrir algo novo e exigente. É normal que treinem, “errem” e voltem a tentar. É um período em que os sapatos não são essenciais, sobretudo se ainda colocarem frequentemente as mãos no chão. A recomendação dos profissionais de saúde que seguem esta filosofia é de que as crianças passem a maior parte do tempo descalças.
Porquê?
- É o mais saudável para o desenvolvimento dos pés, porque podem crescer na sua posição natural, livres, retos e ativados.
- É o que mais permite que os pés exercitem os seus músculos, que se desenvolvem com mais força.
- É o que permite mais liberdade de movimentos e conforto, sem nada exterior que atrapalhe;
- É o que permite mais sensações. Sentir não é algo mau e na fase em que são tão pequeninos, as sensações são essenciais para o desenvolvimento motor e cognitivo. Os pés têm até mais estímulos recetores do que as mãos. O cérebro recebe a informação mais rápido e consegue adaptar-se mais rápido, potenciando o equilíbrio. A criança vai descobrindo o mundo e consegue regular-se mais facilmente. É por isso que tantas crianças se descalçam nesta fase, porque as meias ou sapatos são uma barreira que pode dar uma sensação semelhante a “tapar os olhos”.
E quando está frio?
Podem usar meias antiderrapantes quentinhas, adequando a espessura. Também existem as baby booties da Zás Trás for Babies que são como uma meia antiderrapante, mas com um ar de sapatinho. Estão disponíveis na versão de inverno (cardada ou com pelo interior) e também na de verão, num algodão mais fino e fresco.
Então e quando usar sapatos?
Os sapatos são essenciais quando a criança já caminha na rua e é preciso proteger. Não há problema que use sapatos nessa circunstância, porque é o momento em que realmente precisam deles. Nesta fase inicial da marcha, o ideal é que sejam barefoot e o mais minimalistas possível, ou seja, com menor estrutura, sola mais fina e sem caixa, sem proteção na ponteira, muita leveza e mobilidade. As marcas que mais costumamos recomendar nesta fase são:
- Attipas: um género de um sapato-meia, com sola extra fina e flexível, que costuma ajudar à transição de estar descalço, para ter algo calçado. Permitem muita mobilidade e sensações, ao mesmo tempo que protegem os pés. Resultam melhor em crianças que já andam sem apoio porque são bem antiderrapantes. Existem na versão de inverno e também de verão.
- Bunny Barefoot: Uma marca portuguesa que desenvolveu modelos muito minimalistas, com uma sola extra fina. Têm muita qualidade e são feitos com um couro muito macio. Resultam bem em pés médios, largos ou com peito alto.
- Tip Toey Joey: Uma marca brasileira que disponibiliza modelos de primeiros passos e aquisição da marcha, que têm apenas o essencial para permitirem conforto e proteção. Têm um efeito quase como uma segunda pele, com uma grande variedade de cores disponíveis, assim como modelos adequados por tipo de pé (velcros para pés médios, largos ou com peito alto; atacadores elásticos para pés médios, estreitos ou com peito baixo).
- Zapato Feroz: Uma marca espanhola que faz o maior sucesso no país vizinho, mas que é produzida em Portugal. Tudo é pensado ao detalhe para o maior conforto das crianças, sendo desenvolvidos com o parecer do podologista pediátrico Roberto Pascual. Têm uma sola fina e muita flexibilidade para todos os movimentos.
Aquisição da marcha:
É a fase em que a criança aprende a dominar a marcha e equilíbrio, o que costuma ocorrer durante o primeiro ano após começar a andar sem apoio. Coincide também com a fase de primeiros passos, mas é um período mais extenso. Todos os princípios referidos anteriormente são aplicáveis, sendo que durante todo este ano continua a ser importante privilegiar o estar descalço, sobretudo se estiverem em pisos seguros, como em casa, no interior da creche, no jardim, parque ou praia. Sempre que puderem beneficiar da maior liberdade de movimentos e sensações, será positivo para o conforto, saúde dos pés, desenvolvimento motor e cognitivo.
No entanto, também é nesta fase que os nossos pequeninos se vão tornando mais ativos progressivamente, começando a explorar e brincar mais. Por isso, os sapatos começam a tornar-se essenciais para garantirmos que estão protegidos nos pisos menos seguros. Quanto mais tempo poderem ser modelos de calçado barefoot minimalista, melhor para a maior liberdade de movimentos, sensações e conforto.
As marcas mais utilizadas nesta fase são as Attipas, Tip Toey Joey e Zapato Feroz. São as que têm o nível de minimalista mais elevado, e podem ser usadas até existir número e até resultarem em termos de durabilidade.
Quando as crianças já caminham há cerca de seis meses, já estão mais ativas e têm um desenvolvimento motor superior, pelo pode acontecer alguns modelos mais minimalistas ou sem proteção na ponteira já não serem suficientes em termos de duração. Caso os ténis comecem a ficar desgastados ou rasgados numa semana, pode significar que precisam de algum modelo com proteção na ponteira, que evite esta questão. A Zapato Feroz continua a ser uma opção válida. Não tem caixa em toda a volta, mas têm uma proteção fina em borracha.
Além disso, há outras marcas pensadas para esta fase, que já têm caixa em toda a volta e funcionam como modelos intermédios, antes de a marcha estar totalmente adquirida. Continuam a ter a sola mais fina, são mais leves e a sua caixa é o mais fina possível, para que permita a maior liberdade de movimentos. Alguns exemplos deste tipo de modelos são a Muris Brand, MTNG Free, Blanditos, Victoria Barefoot, Igor e Geox da versão respeitadora.
Marcha completa:
Cerca de um ano após começarem a andar, os nossos pequeninos ficam com marcha completa, o que significa que já dominam o andar e equilibrar, assim como o correr e saltar. É a fase em que se tornam mais ativos, em que estão sempre a brincar, em que há mais atividades físicas. Por este motivo, há dois aspetos que são essenciais nos sapatos:
⁃ Devem ser o mais confortáveis possível, para que se sintam bem, com liberdade de movimentos para que possam ter todas as suas brincadeiras;
⁃ Pode ser necessário que sejam mais estruturados, com proteção na ponteira e/ou caixa em toda a volta, para que o sapato tenha maior proteção e durabilidade, ou seja, para conseguir acompanhar as brincadeiras das crianças pelo maior tempo possível dentro do que é expectável até o pé crescer novamente e precisar de mudar de número (entre 3 a 6 meses).
Ainda assim, não estranhe se de um momento para o outro existirem modelos que num mês já podem estar com muitas marcas e histórias, os próximos anos serão os mais desafiantes nesse sentido, em que mais pode haver rápido desgaste dos sapatos, mas faz parte e é sinal de que as nossas crianças brincam e têm um bom desenvolvimento motor.
Pelo contrário, nem sempre o facto de se completar um ano de marcha autónoma significa que se deve passar logo para os modelos de marcha completa. Se por acaso os de aquisição da marcha ainda resultam bem e existe número, poderá manter e terá vantagens porque são mais leves, flexíveis e com sola mais fina. Pode ter o coração tranquilo de que terá muito tempo para usar os mais estruturados. É muito comum o uso dos modelos de marcha completa ocorrer apenas por volta dos 3 ou 4 anos (quando já têm marcha completa há cerca de dois anos). E está tudo bem, apenas precisamos de avaliar os nossos pequeninos e adaptar consoante as suas necessidades.
Mas, que marcas são estas que são mais estruturadas e duráveis?
A maior parte disponibiliza uma continuação dos modelos de aquisição da marcha, mas com as características que ajudam à maior duração, como é o caso da Tip Toey Joey, Zapato Feroz, Blanditos, Muris Brand e MTNG Free. Há marcas que têm coleções que resultam em ambas as fases, como é o caso de Victoria Barefoot, Igor e Geox, que são modelos intermédios e mais intemporais. Depois, há também as marcas que têm apenas opções de marcha completa, como a Lejan, Naw ou Koops.
Adultos:
O calçado barefoot não se destina apenas a crianças, mas sim a todas as idades. Não há tempo limite para nos sentirmos confortáveis, cuidarmos dos nossos pés e até melhorarmos a sua fisionomia. O calçado tradicional, mais estreito na ponteira, pode causar vários problema e deformações. Quando os nossos dedos não têm espaço e ficam comprimidos, acabam por ganhar a forma do sapato. Não só é desconfortável, como pode causar feridas, problemas de postura e deformações a longo prazo (como joanetes, dedos sobrepostos). Pode acontecer também existirem questões hereditárias, em que este tipo de calçado mais tradicional acaba por agravar a condição. Muitas vezes, a mudança de calçado para opções mais amplas é o primeiro passo para maior saúde dos pés.
Inicialmente os pais tinham curiosidade de saber o que é esta “sensação quase como estar descalço” e atualmente são os inúmeros fãs deste tipo de modelos que deixam os dedos livres e têm flexibilidade, acompanhando os movimentos naturais dos pés. Todos os dias recebemos mensagens de adultos que afirmam nunca mais ter voltado a usar os modelos “comuns”.
Há quem diga que é apenas uma moda, mas nós dizemos que é saúde. Não precisamos de sofrer para estarmos bonitos e confortáveis. Os pés são uma parte muito importante do nosso corpo e precisam da nossa atenção. São a nossa base, o que nos permite caminhar, fazer as nossas atividades preferidas ou até exercer a nossa profissão. Porquê colocá-los todo o dia nuns sapatos super apertados, com solas os deixam fracos, sem se puderem exercitar. Ou saltos altos, que são lindos, mas prejudicam imenso a postura e formato? Tudo na vida tem um peso e medida, claro, mas nada como “experimentarem e testarem” para serem surpreendidos!
Ainda por cima, cada vez há uma maior preocupação das marcas em fazer modelos barefoot que sejam bonitos e dentro das tendências de moda atuais. É o caso de Victoria Barefoot, Muris Brand, Coqueflex, Mustang, Fleeters, Ohne Project, Mum Barefoot… São muitas as opções irresistíveis.
No caso dos adultos, como há um histórico de anos com calçado comum, mais apertado, maioritariamente sem folga e de solas com elevação, deverá existir um período de transição e adaptação ao calçado barefoot. É normal que inicialmente possam estranhar a ponteira e que o formato plano possa ter impacto no vosso corpo, sentindo na postura ou nas pernas. Por isso, para que seja algo mais tranquilo e o corpo tenha capacidade para se adaptar, é bom que seja gradual. Não use logo por um largo período de tempo, vá experimentando em vários contextos, de forma tranquila. Sobretudo se realmente se identificam com esta questão. Caso os efeitos sejam muito intensos, recomendamos que a transição seja acompanhada por um podologista ou fisioterapeuta especializado neste tema.
Se estiver habituado(a) a passar muito tempo descalço, pode ser mais fácil e não ser necessário um período de transição tão gradual. Devemos sempre adaptar à experiência e sensação pessoal.